Sem apoio, peça tradicional na Semana Santa, sai de cena. Segundo organizadores, por falta de apoio governamental e prestes a celebrar os seus 30 anos de existência, o espetáculo teatral tradicionalmente encenado por trupe de Garanhuns no Alto do Magano, sai definitivamente de cartaz
Nascido da abnegação e amor pela arte e mais especificamente pelo teatro, o espetáculo teatral ‘Jesus, Alegria dos homens’, deixou de ser apresentado ao público de Garanhuns e região e daqui pra frente, de acordo com um dos seus fundadores, o comunicador, publicitário e teatrólogo Gerson Lima, não deverá mais voltar à cena.
A peça era encenada anualmente neste período de semana santa.
Utilizando mais de 95% dos artistas de Garanhuns e alguns de outros municípios do Agreste e apesar de trazer a já conhecida história bíblica da paixão e morte de Jesus Cristo, a peça sempre criou uma atmosfera de expectativa para os apaixonados pelo teatro. Nomes como os do próprio teatrólogo e ator Gerson Lima entre outros, dando espaço a artistas iniciantes e veteranos tinha no cast, eternizado pelo força das artes, vozes do já saudoso radialista Rossini Moura, timbre grave que narrava a introdução da sagrada história milenar da redenção e do jornalista e hoje consultor Marcelo Jorge, que empresta(va) sua voz à personagem de Jesus Cristo.
Atores como Julierme Galindo, Carlos Janduy (também escritor e diretor de teatro), o médico Ulisses Pereira – que encarnava a emblemática personagem Pôncios Pilatos - , além da atuação da professora Marcilene Pereira, do professor Pedro Afonso e do saxofonista Henrique Cesar, ambos em épocas distintas, atuantes na interpretação do protagonista da história, Jesus Cristo, davam vida às cenas. Até mesmo a atual Secretária de Cultura de Garanhuns, Sandra Albino, já havia participado na encenação em algumas das edições, encarnando a sagrada personagem de Maria, mãe de Jesus.
Segundo informações do próprio site da prefeitura de Garanhuns em 2017, a peça tinha “Duração média de 1h30min, o espetáculo que conta com o apoio do Governo Municipal, possui cerca de 250 pessoas envolvidas diretamente na produção dos preparativos e aperfeiçoamento das cenas e interpretações. A trajetória dos últimos dias e da ressurreição de Jesus Cristo é dividida em aproximadamente 25 cenas.” Nas últimas edições, em torno de 2.000 pessoas por noite acompanhavam as apresentações.
O evento já era consolidado como um dos maiores espetáculos ao ar livre do interior de Pernambuco e vinha sendo realizado pela Associação Teatral Jesus Alegria dos Homens (Astejah).
Nas edições anteriores à pandemia do Covid-19, período no qual sofreu interrupção em virtude dos decretos sanitários, o espetáculo recebia por parte da prefeitura além de 60 mil reais para montagem, o apoio logístico com a execução dos trabalhos de infraestrutura na área da peça, por meio da Secretaria de Obras e Serviços Públicos. E reforçando a segurança durante os dias do evento, para disciplinamento do trânsito no local, também dispunha da atuação de guardas municipais disponibilizados pela Autarquia Municipal de Segurança, Trânsito e Transportes (AMSTT).
CENA FINAL
Em um texto de gratidão aos apoiadores da peça, Gerson Lima, um dos criadores e diretor artístico do ‘Jesus Alegria do Homens’ explicou que a atual gestão não recebeu a direção do espetáculo em tempo hábil nesse ano de 2023, apesar de diversas solicitações, o que só aconteceu quando os prazos praticamente já haviam se esgotado. Mas assim mesmo, o próprio prefeito não os recebeu, designando sua assessoria para a tarefa. O valor solicitado de 60 mil reais, ainda segundo o produtor, também foi negado, o que inviabilizou a montagem.
Em entrevista a uma emissora de Rádio na manhã desta sexta-feira, o prefeito de Garanhuns se defendeu das acusações de que abandonou o espetáculo. Albino alegou “desorganização dos produtores do evento”, exigência de valores financeiros “acima do normal” em relação às encenações anteriores e também ‘politização do caso’, em razão, segundo o gestor insinuou, da proximidade e simpatia dos agentes culturais com os governos de Izaías Régis.
Independente de quem tem ou não razão no episódio, em meio a tanta violência e desamor no mundo, um excelente momento para evangelização e reflexão sobre a história do Maior Homem que já pisou nesta terra foi politizado e com isso perdem os admiradores das artes e os cristãos que, de forma respeitosa e solene prestigiavam a interpretação.
Judas Iscariotes, personagem bíblico e de acordo com os relatos dos evangelhos, autor da traição a Jesus por 30 moedas de prata, ficaria corado pela covardia e desfecho dessa história... Que cada um ponha a carapuça e tenha uma boa Páscoa...
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